Não faço parte da geração aficionada no programa do Preço Certo. O primeiro programa que vi foi ontem e in loco. O Fernando Mendes pareceu-me uma pessoa genuína, cheia de
humor e boa disposição e isso, na verdade, é contagiante.
Para mim a
experiência de ontem teve algumas peripécias e, prometida a minha análise, aqui
vai:
De forma bruta e crua, são nada mais, nada menos que 7h30
dentro do mesmo local, com as mesmas pessoas…a ser ensinados como e quando
devemos bater as palmas…A ir para ali e depois sair e outra vez, tipo animais
de circo (cujas práticas de adestramento eu abomino). Dentro destas circunstâncias, existiam
verdadeiros fãs, a vibrar com toda a energia criada por entre câmaras, luzes e
o famoso Betão que está ali com a função de animar e entreter as pessoas.
Bom, quanto a mim, ainda não tinha entrado à porta do
estúdio e matei um moscardo gordo e doloroso com as minhas próprias pálpebras.
O sacana entrou vivo, mordeu…irradiou todo o meu globo ocular de rosácea e, depois, lamentavelmente foi retirado já inanimado, fruto de muitas piscadelas e água corrente.
Na sala de espera, existiam vários grupos, tal como aquele
onde eu pertencia. Mas havia um especial. O remunerado. Estavam bem vestidos e
cheirosos (ao contrário de todos os outros que já traziam quilometragem nos
músculos e algum [muito] suor à mistura), receberam vales. Ficaram visivelmente satisfeitos
e seguiram para o programa da Tânia Ribas de Oliveira. Segundo, uma conversa que acabei por ouvir entre duas colegas do público desse programa: “Já recebemos do programa da
manhã de hoje”. Pelo que apurei, passaram o dia inteiro a assistir a programas.
Não critico, apenas me faz pensar.
Gravámos um programa e aparecemos no direto. Ao meu lado
estava um senhor chamado Alberto. Estava ali pela primeira vez, tal como eu. Contou-me em 7 minutos a
história da sua vida. Órfão de mãe aos 4 anos, rejeitado pelo próprio pai aos 7 anos. Andou em “casas de patrões” a trabalhar, casou
e teve 5 filhos. Criou um neto, agora com 18 anos e ofereceu-lhe a carta e um
carro, tudo à custa do seu trabalho. Reformou-se aos 60 anos. Segundo ele, teve
sorte. Gostou de mim, segundo me confidenciou. 7 minutos apenas e a partilha desta
história foi imensa. Sem preço ou tempo, de uma generosidade incrível.
A responsável do nosso grupo jogou mas não foi bafejada pela sorte
e no final, o sentimento era ambivalente. Ganhar era o nosso foco. E não
ganhámos nada. Os prémios viriam para a nossa instituição. A causa que nos
moveu aquelas 7h30 era nobre. Mas a sorte tem destas coisas.
Seguiu-se uma visita íntima ao Santo António pelas ruas de Alfama, Vila Berta, São Vicente, Graça, Mouraria… tudo isso com um propósito: enaltecer uma das coisas boas da vida, os amigos. Mas o frio e o vento nessa
noite nos bairros de Lisboa era cortante e maquiavélico e eu, acabei por pedir um “café da
avó” (muito comum na minha zona e em festas populares, devo-vos dizer!). O produto não é comercializado nas tascas da capital e eu fiquei
envergonhada (só um bocadinho). Encontrar algo vegetariano por ali também não
foi fácil, mas a prova foi superada: empada de espinafres e cogumelos, a
contrastar com as sardinhas e caracóis que os meus amigos comiam.
No final, a cereja no topo do bolo: parque de estacionamento
(onde o meu veículo arrefecia e esperava ansiosamente pela condutora e suas companheiras de bordo) estava
fechado. Os cenários daquela ideia avultavam-se e entorpeciam-me a minha racionalidade.
Felizmente, há sempre alguém com capacidade de desenvolver novos cenários e
possibilidades. Encontrámos nova entrada (desta vez aberta) e lá conseguimos
sair sãs e salvas. Chegada a casa e ainda, a sentir o sangue pulsar e a contar
as horas a menos que eu iria dormir, o sono tranquilo dos meus "mais que tudo" reinava por toda a casa, num silêncio enternecedor. E eu agradeci a dádiva a que os meus olhos
cansados assistiam.