Acordo às 5h da manhã. Tem vindo a ser um hábito comum. Protesto internamente e, provavelmente, até a cor dos meus olhos muda [imagino-os vermelhos], tal é a minha zanga com a incapacidade do meu corpo sucumbir aos prazeres da horizontalidade. A necessidade frenética de dedilhar letras é o passo seguinte. Coloco os fones. "People and I" do Benjamim Clementine é a minha escolha. Ofereço gentilmente diopetrias ao tão aclamado orgão que prefere manter-se ligado, quando eu apenas só o queria desligar. As imagens mentais surgem disparadas em catadupa. Não tenho falanges que acompanhem e resigno-me a um silêncio de movimentos. Espero. Lá fora, dois gatos vizinhos vêm à janela, procurar alimento. Da chaminé do exaustor ouço pássaros em sonatas impiedosas e, voos atrasados de mães noctivagas que ainda não chegaram ao ninho. Elas irão chegar, eles irão sobreviver e eu não tenho como os acalentar. A dose exigida pelos gatos vizinhos é colocada. O frio fere o meu couro cabeludo e um arrepio lembra-me que uso roupa insuficiente para aquilo que a natureza me faz sentir. Recolho o esqueleto para lugar quente e seguro. Nenhum carro passou ainda. Apenas um senhor carregando uma máquina de envenenar as ervas. O veneno da terra. Vejo-o e deixo passar. Assisto serenamente a esta ideia de um futuro negro e passo à frente. Sou uma cobarde. Sucumbo aos prazeres que a melodia me permite e fecho os olhos. Entro num mundo paralelo, pela porta mais pequena que se possa imaginar e fico. Fico.
O meu mundo paralelo. Ilustração de Shanghai Tango. |
Caramba... gostava disso... de durante alguns dias o meu corpo tivesse
ResponderEliminar" incapacidade do meu corpo sucumbir aos prazeres da horizontalidade ", só os dias que chegasse para por tudo em ordem!! Ahah
Trocamos? :) ahahaha
EliminarAbraço!
Vamos nessa!!! AHahha
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