...e o meu coração tem muitas formas. Ninguém me disse, eu sinto-o assim.
É redondo quando não quer parar de sentir coisas bonitas e confabula com o movimento circular até que algo o faça mudar novamente. É quadrado quando o obrigo a pensar antes de bater. Estranho, tê-lo de pôr a pensar. A maior parte das vezes, ele não me obedece e todo o meu esforço é inglório. No entanto, um esforço necessário. Há dias em que o meu coração tem forma de estrela. Aí, ele gosta de percorrer todo o meu corpo e sair disparado pela boca. Quando isso acontece, tenho de ter muito cuidado. Porquê? Porque o meu coração estrela tem 6 pontas afiadas e pode magoar quem, por ela for atingida. Mas, o estranho e o bonito pode acontecer em simultâneo e, o meu coração em forma de estrela, volta a transformar-se. Desfaz-se em pó e luz, acabando por trucidar cirurgicamente a escuridão que, às vezes, me contém. O meu coração é um mistério. Silencioso nos momentos ensurdecedores e barulhento em momentos de um desassossego frágil.
Sei que o meu coração gosta de música. Ele já me contou num dos meus sonhos impróprios para cardíacos. Ele mostrou-me a pauta. O deliquente bate em estrofes pautadas por ritmos quentes. Tem batido assim. E eu gosto que ele me acompanhe quando, no meio da multidão, só eu o consigo ouvir. Somos um do outro. O meu coração é o meu corpo. O meu corpo é o meu coração. Eu tenho muitas formas, ele também.
Falo-vos de coração sobre o coração, o meu.
O meu.
Também acontece, mas com menos frequência. |
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