Numa sala de raio X, com a pequena C, à espera da nossa vez, eis que a conversa de circunstância se inicia, com os presentes na sala.
- Então, a sua menina está doente? - pergunta um pai de uma miúda, que se tinha magoado no pulso.
- Sim, está muito constipada. - respondo.
- Eu já conheço esta sala de trás para a frente. - diz o senhor, com cerca de 38/40 anos.
- Então? - senti necessidade de continuar, pois parecia que ele precisava de desabafar.
- Uma vez parti o pé, outra vez a clavícula e ainda, num acidente de trabalho, parti a perna a meio pela rótula.
A esta altura eu já tinha iniciado o mecanismo da empatia e o meu pensamento era algo deste género:
Coitado, este homem tem cá um azar.
Fui, de imediato, impelida a dizer:
- Pois,o senhor já teve uma data de azares... -acrescentei.
Mas o senhor, continuava em tom de desabafo...
- O pior foi mesmo o ano passado. Às 7h20 da manhã já estava aqui no hospital e mandaram-me logo para a urologia dos Covões. Fui logo para o bloco.
E, como Deus Nosso Senhor me deu o dom de não conseguir estar calada, mesmo quando é caso para isso, remato:
- Então, apendicite? (não sei porque raio me lembrei disto..mas pronto!)
- Não, não (levantava a cabeça e bufava em tom de suspiro). Desloquei aqui as partes baixas. E nem imagina como!
(Ai...que é tão bom quando só falamos para dentro...o que não foi o caso.)
- Ah pois...
E fez-se silêncio.
Quando cheguei do hospital, partilhei esta história com o M.C. que ficou, inicialmente confuso e depois "arrepiado". No entanto, ainda me perguntou:
- Deslocou como?
Só consigo imaginar algo parecido com isto. |
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