O meu avô descobriu aos 91 anos (quase 92) que poderia ter
sido arquitecto. Pedreiro a vida toda, agora a viver num lar, passa os dias e
as horas a desenhar as plantas das casas que construiu. Não usa óculos (nunca
usou) e quando tinha perto de 70 anos foi operado às cataratas. Tem um
escritório improvisado numa sala comum, repleta de antíteses e intenções. Uma
sala onde o presente ora se define no silêncio das sestas improvisadas em
cadeiras, ora em gritos desenfreados e sem significado que relatam somente a
angústia de quem não sabe quem é, nem onde está. Traz os seus objetos de
trabalho dentro de uma caixa de plástico. Usa régua e esquadro com uma perícia
incrível e agora, até usa corretor quando as linhas não cumprem os seus
desígnios de perfeição e esquadria. Consegue fazer as reduções à escala real. A
sua obsessão reside agora em desenhar as plantas das casas dos seus três
filhos. Mostra-nos orgulhosamente os pedaços de papel, colocados com fita cola
que obedecem a uma lógica imperturbável. Tem a 4ª classe, mas a ortografia não
é com ele. Escreve como fala. Ouve mal e a metade das nossas conversas tem de
ser feitas junto do ouvido. O meu avô descobriu aos 91 anos (quase 92) que
poderia ter sido arquitecto.
Para mim, ele já é.
Só essa vontade e dedicação já comove *-*
ResponderEliminar<3
EliminarNunca é tarde.
ResponderEliminarO meu pai licenciou-se muito depois dos 70.
É verdade!
EliminarAbraço!
Brutal. Tão bom quando se mantém assim ativos e ocupados :)
ResponderEliminarSim! Abraço!
EliminarUAUH!!!!!
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